Descrição
Este trabalho investiga a constituição de algumas narrativas sobre a música popular urbana elucidando o fluxo dinâmico do qual elas resultam, procurando (re)construir a história que as inventou, a partir da mediação de Mariza Lira, Eneida de Moraes e Ary Vasconcelos. Sediados nos órgãos de imprensa e outras mídias, eles se debruçaram sobre a música popular urbana, um objeto até então ignorado pela intelligentsia brasileira, construindo uma abordagem historiográfica específica sobre o tema. A historiografia construída por esses pesquisadores informais, de 1938 até início dos anos 1960, acabou definindo uma forma de escutar, ver e compreender a sociedade, a partir de um discurso muito próprio, em que a canção e a música popular tiveram papel central. Com o tempo formou-se uma narrativa documentada, explicativa e inovadora sobre a música popular que, posteriormente, acabou se oficializando por meio de instituições como o Museu da Imagem e do Som do Rio de Janeiro (1965), a Funarte (1975) e a Associação dos Pesquisadores da Música Popular (1975). Contudo, o estudo desses autores, usados até hoje como fontes primárias para as pesquisas realizadas no âmbito acadêmico, é muito tímido. Ainda mais inexplorado é o discurso historiográfico produzido por eles. É neste sentido que esta investigação buscou compreender e analisar a produção intelectual mais perene, ou seja, bibliográfica, e também aquela publicada em jornais e revistas, de Mariza Lira, Eneida de Moraes e Ary Vasconcelos. A riqueza da investigação está no fato de que esses autores se voltaram ao estudo da música popular e construíram narrativas historiográficas por vias diferentes, seja através do folclorismo no caso de Mariza Lira; do sociologismo marxista em Eneida de Moraes; ou, ainda, pela reconstrução da história política e social, no caso de Ary Vasconcelos. Cada um à sua maneira buscou contribuir para a preservação da memória da música popular urbana e com a invenção de um passado glorioso.
Flávia Guia Carnevali nasceu em 1977 em São Paulo. Graduou-se em história pela USP e é professora de História do Ensino Médio na rede particular de ensino há mais de vinte anos, sua grande paixão. Mestre e Doutora em História Social pela Universidade de São Paulo concluiu recentemente uma especialização em Educação transformadora pela PUC-RS. Publicou recentemente na Música Popular em Revista da Unicamp o artigo “Eneida, Amor e Fantasia: Eneida de Moraes (1904-1971) militância e feminismo na história do carnaval carioca”. Atua como parecerista em periódicos na área de história da música.
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