Descrição
Vez ou outra, no ímpeto do trabalho, fora meu hábito assistir na verificação de algum documento breve, chamando Turkey ou Nippers para esse propósito. Meu objetivo, ao colocar Bartleby tão disponível no biombo, era me dar o luxo de seus serviços em tais ocasiões triviais. Foi no terceiro dia, acho, desde sua chegada, e antes de qualquer necessidade de checagem da sua própria escrita, que, estando muito apressado para uma pequena tarefa que tinha em mãos, abruptamente convoquei Bartleby. Em minha pressa e natural expectativa de resposta instantânea, sentei com a cabeça debruçada sobre o original em minha mesa e a mão direita estendida nervosamente para o lado com a cópia, de modo que, prontamente saltando de seu refúgio, Bartleby alcançá-la-ia e partiríamos para o trabalho sem demora.
Nessa exata posição sentei quando o chamei, rapidamente enunciando o que queria que fizesse – a saber, examinar um pequeno documento comigo. Imagine a surpresa, ou melhor, a consternação quando, sem se mover de sua privacidade, Bartleby, numa voz singularmente singela, firme, respondeu: “Preferiria não”.
Fiquei sentado por um tempo em silêncio, brigando contra minhas faculdades atônitas. Imediatamente ocorreu que minhas orelhas teriam me enganado ou que Bartleby tivesse entendido completamente errado o que quis dizer. Repeti a requisição no tom mais claro que pude; mas em tom tão claro quanto veio a resposta: “Preferiria não”.
“Preferiria não”, ecoei, levantando-me exaltado e cruzando a sala a passos largos. “O que quer dizer? Está desvairado? Quero que me ajude a comparar esta folha aqui – tome”, e joguei para ele.
“Preferiria não”, disse.
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No começo do século 20, os escritórios não possuíam scanners, nem celulares, muito menos computadores. Para copiar documentos, era à mão. Os escriturários faziam essa função. Certo dia, um funcionário exemplar chamado Bartleby, mesmo que um tanto reservado e fechado em seu próprio mundo, responde uma solicitação de trabalho do seu chefe com uma frase ‘Preferiria não’, e volta para sua mesa e seu mundo particular. Deixando chocados seu chefes e colegas de trabalho. Com o correr dos dias, Bartleby responde cada vez com o refrão que se torna um verdadeiro mantra e alcança cada vez mais profundezas e se refere não somente a trabalhos específicos dentro do escritório, mas a todo a sua existência e vida. Ou morte. Literalmente.
BARTLEBY, O ESCRITURÁRIO é um conto do mesmo autor do monumental MOBY DICK, mas apesar da diferença de tamanho e do enfoque, BARTLEBY causa o mesmo espanto, o mesmo impacto, a mesma impressão profunda. BARTLEBY é uma das obras primas da literatura mundial.
Nem preciso dizer o quanto a Desconcertos Editora está orgulhosa em trazer uma edição absurdamente esplendorosa para esta obra que marcou gerações. Para isso conta com o aporte não somente da diagramação dedicada e linda, edição bilíngue, capa dura, ilustração espetacular exclusiva do artista William Nelson Pereira, tradução de Helton Bezerra Moreira. Esta tradução faz parte de sua tese de mestrado que é reproduzida integralmente aqui. Portanto, além do texto original e esta tradução exclusiva, a edição Desconcertiana deste livro traz uma importante visão, um trabalho acadêmico sensacional, sobre os bastidores do ofício de traduzir, e uma discussão profunda sobre as diversas soluções encontradas para se entender e compreender a obra de Melville.
HERMAN MELVILLE (1 de agosto de 1819 – 28 de setembro de 1891) foi um escritor estadunidense. Teve uma vida aventureira e agitada, da qual transcreveu em ficção para os seus livros. Fez muito sucesso no começo de sua carreira literária. Aos poucos, porém, sua carreira foi decaindo, a ponto de ter sido quase que completamente esquecido quando faleceu. MOBY DICK não foi devidamente reconhecida em sua vida mas, aos poucos, essa visão foi mudando e atualmente é considerada sua obra-prima e um dos grandes clássicos da literatura mundial.
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