Descrição
não é exatamente um retumbe
é o som que atravessa a parede
é a o palpitar das sacadas e das ruas
é o estremecer da cidade e do concreto
vermelho que escorre do meio das pernas
da menina sentada na calçada
enquanto chora uma certa desesperança
Sit there, count your fingers.
What else, what else is there to do?
não é exatamente um retumbe
é a sensação que apresenta os anjos decaídos
bêbados desconsolados batendo palmas
a girar a cidade enquanto vomitam
jorros de ambrosias douradas mal digeridas
e, mesmo assim, cantam sua certa desesperança
ainda que o mundo não os ouça
(mas os anjos não se importam…)
It´s gonna feel just like those raindrops do
When they´re falling down, honey, all around you
não é um baque, um retumbe, não mesmo
é somente a música que sobe a cidade
como nuvem noturna e cujas gotas dançam
e se misturam às gotas do vermelho
das pernas da menina e dos anjos
sem vergonhas atropelados pelo destino
anjos, demônios and a little girl blue pela cidade
I don´t know what else, what else
Honey, have you got to do
os demônios urram suas maldições
pelas ruas molhadas de cerveja e sangue
da cidade assustada, mas deve-se dizer:
não são eles a tocar os tambores,
não são eles a tocar o terror e amedrontar
criancinhas incautas
não são os demônios o terror.
tenha pena da menina a chorar
sua líquida dor avermelhada
sob a chuva anavalhada;
tenha medo dos anjos desabridos
desinibidos a concertar paraísos envergonhados,
toquemos com os demônios,
toquemos com os diabos
de uma cidade assustada,
rezemos para que não sejamos nós os demônios,
ou, pior, os anjos,
ou, pior, a chuva
and count your fingers
–
Claudinei Vieira, sem medo de incorrer em erro, é um dos grandes poetas contemporâneos. Desde YURÊI, CABERÊ, seu primeiro livro de poemas, destaca-se pelo olhar aguçado e atento para o homem submerso sob os escombros da metrópole, faz uso do ritmo rápido, entrecortado e a linguagem, contundente e fragmentária. Os poemas mostram a relação desse homem com o espírito tirano da urbe que, por inúmeras vezes, nos põe de joelhos perante situações desumanas e, também por sua recorrência se tornam comuns. – Fabiano Garcez
Eu já sabia do seu jeito: poeta do desconcerto, voyer do desencanto, stalker da indignação. Em pessoa, doce e gentil. Agora, é o poeta quem revela sua melhor face: guia experimentado por escombros da guerra urbana. São Paulo é uma perversão em contos de fada, matéria prima para a poesia de Claudinei Vieira. Por um percurso de esquinas e cafés, calçadas e bares, a poesia é a ansiedade e angústia do conformismo: uma certa desesperança, a sentença irrecorrível de que, se não há morte, não é poesia. – Adriana Anelli
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