Descrição
Sondando uma documentação minuciosa, composta por correspondência de cartões-postais; as três séries dos trinta cadernos manuscritos de Guimarães Rosa; escritos dispersos em periódicos, desenhos ou sugestões de imagens e capas feitas pelo próprio escritor e de inúmeras outras fontes – além, é claro de amealhar toda a portentosa fortuna crítica de Rosa – quase que poderíamos dizer, com Willy Bolle, que Camila Rodrigues chegou bem perto de penetrar na “câmara íntima” de criação do escritor. Mas a importância deste livro está em algo que o leitor só perceberá nas entrelinhas: a paixão da intérprete pelo tema de sua pesquisa. Pois, como não compartilhar da ternura de Nhinhinha, que dizia coisas de puro lirismo como “o passarinho desapareceu de cantar” ou insistia em fazer ‘listas das coisas que no dia-a-dia a gente vem perdendo”? Ou pela “pequenininha” Djaijaí cuja “voz era menor que uma trova”? Ou, ainda por Brejeirinha,“azougue de quieta”, aquela que “toda cruzadinha, ocupava-se com caixa de fósforos”? Pois não é neste encantador balbuciar das crianças que nasce aquele primitivo e singularíssimo universo da linguagem – aquele mundo no qual, na feliz defi nição de Clarice Cohen, a “criança não sabe menos, ela sabe outra coisa”? Por tudo isto, incluindo a meticulosa e sensível escrita da intérprete, o livro é uma contribuição inestimável não apenas à uma história cultural da linguagem das crianças, mas também porque, ao amealhar e dialogar com a extensa fortuna crítica do escritor, ensaia uma inédita interpretação das incríveis narrativas do autor de Tutaméia. – Elias Thomé Saliba
Camila Rodrigues é historiadora, professora e pesquisadora das relações entre História e Literatura, com ênfase nos estudos sobre Guimarães Rosa, que, além desta tese e da dissertação em História pela USP, também é assunto de cursos, o cinas para crianças, artigos e capítulos de livro.
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