Descrição
Estamos no Brás, década de 40, a cidade de São Paulo; a rotina do bairro operário e suas transformações por décadas compõem a história de uma família e sua segregação social.
São diversos os narradores que nos levam pelos corredores da memória: Herculano, paciente da casa de loucos, o irmão farmacêutico, a cunhada e o sobrinho Alfredo… Com eles percorremos cenários de trens e seus carregadores de mala, o interior do estado. Colhemos dessas viagens a verdade sombria de seus dias: a convulsão política que estagnava sonhos e ceifava futuros ao terror de porões.
Em FÁBRICAS MORTAS, os personagens estão em fuga. Nunca revelam a verdadeira face. E neste quebra-cabeça de memórias alteradas, as máscaras sufocam o pouco que lhes sobra de humanidade.
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“A ideia deste livro surgiu numa viagem de trem a Paranapiacaba, há uns 8 anos, espiando pela janela o desfile de fábricas mortas, nos caminhos dos santos do ABC, algumas ocupadas por empresas de eventos noturnos e de forrós; outras entronizadas por empresas dedicadas à exploração da credulidade em sacrários evangélicos, etc. Viagem às Fábricas Mortas (Desconcertos Editora) é um romance quase imemorial para minha consciência, sempre em luta com obrigações profissionais e a promessa, para mim mesmo, de que lá pelos 45 anos o escreveria. No Fábricas Mortas confundi memórias e ficções. As personagens são pessoas simples que, até sem o querer, compactuam com ditaduras: do lar, da profissão e do terror. Terror político e profissional, enquanto algozes, alguns de inocência anunciada, outros de maldade dolosamente consumada. Vítimas? Todos somos ou um dia seremos, sem despertar qualquer interesse. Estamos no Brás, nos anos 40; a rotina do bairro operário e suas transformações por décadas escrevem a história da família e sua segregação social; um crime e seus fantasmas; corpos insepultos; o terror.
Narradores nos conduzem por corredores da memória: Herculano, paciente de internações esporádicas, ‘Santinho’, o irmão farmacêutico, a cunhada e o sobrinho Alfredo; os refugiados … Com eles atravessamos linhas de trens e conhecemos carregadores de estação, e o interior do Estado; dessas viagens escorre a verdade sombria dos dias: a convulsão política; o eletrochoque que sufoca sonhos e ceifa futuros.
A modernidade, para eles, é o contato com refugiados submissos, massacrados entre sorrisos, acabam por criar novas escravidões e amores extraídos ao ódio, por entre desajeitados afagos e silenciosas explorações. Em Fábricas Mortas, os personagens estão em fuga. Nunca revelam a verdadeira face. E neste quebra-cabeça de memórias falseadas, máscaras conservam o pouco que lhes resta de humanidade. Há sempre algo oscilando entre alegria e tristeza, enredadas num abraço sufocante, a misturar perigos que atravessam décadas de horrores, tragados nas semelhanças entre torturador e torturado. Esse livro continuaria numa longa viagem, não fosse a interferência do editor Claudinei Vieira, nessa vereda de trágicas correções e infindáveis leituras sobre um Brasil de indecências e gorgulhos, na longa noite dos porões civis-militares.
Um novo projeto começa a ser digitado, dolorosamente, quase 52 anos de Cadernos, para um dia publicar ‘Memórias’, em edição de bolso e papel bíblia… Que a Literatura continue viva e enfrente o futuro sombrio e autoritário que se avizinha.
FAUSTO MACEDO, Estadão
https://www.estadao.com.br/politica/fausto-macedo/viagem-as-fabricas-mortas/
Caetano Lagrasta Magistrado desde 1975, aposentado compulsoriamente desembargador, depois de 38 anos de carreira, em razão dos 70 anos de idade, em 2013; contínuo, em 31 de março de 1964, no Tribunal de Alçada Civil e, depois de 12 anos, diretor de seu Departamento de Jurisprudência; árbitro nos últimos cinco anos, advogado formado na Faculdade do Largo de São Francisco, onde ocupa na Academia de Letras, a Cadeira Graciliano Ramos.
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