Descrição

“Nossa máquina de lavar, da marca Literatura e fabricada na década de 60, embora desligada da tomada, continuava funcionando.

E eu estava dentro.

A máquina tremia, saltava, roncava, sacudia, resistindo à sua natureza de objeto fabricado para ser alimentado por uma fonte de energia e parar quando esta cessasse, para funcionar segundo a resistência do conjunto de seus materiais com relação a uma combinação de fatores físicos e químicos, como atrito, temperatura, umidade e condições de uso.

Quando parecia que ia parar, voltava a girar com um agônico gemido mecânico. Os movimentos da Literatura comprimiam os meus órgãos. Parecia que a máquina, para continuar funcionando, precisava sugar minha energia.

De repente, Meu Pai entrou na cozinha, foi até a caixa de ferramentas, pegou um martelo e deu várias pancadas na Literatura. Ela ainda girou uma vez num último esforço de resistência, soltou um estertor e, finalmente, parou meio destruída, com parte da engrenagem à vista.

Saí correndo em direção à Minha Mãe, que me amparou chorando enquanto repreendia o Meu Pai:

−O que você fez com a Literatura? Você a destruiu! E agora?”

–

Uma viagem emocional, linguística, lúdica, formal, literária, que narra a história de uma garota perdida em uma máquina de lavar roupa ou na Literatura, ou em labirintos, ou em um asilo, ou em encontros com autoras e autores famosos, ou fugindo dos cossacos naifs ou das abelhas zumbidoras, ou dentro de sua mente. Ou dentro de nossa mente. Uma das obras mais instigantes, intrigantes e divertidas dos últimos tempos.

Maria Alzira Brum, brasileira, vive entre o México e o Brasil. Autora, entre outros, de A ordem secreta dos ornitorrincos (Brasil, Amauta, 2008), Novela suvenir (México, 2013 Editorial, 2014), No hacerlo (México, Librosampleados, 2014). Participou de antologias, entre outros, no Brasil, Peru, Estados Unidos e México. Doutora em Comunicação e Semiótica pela PUC – SP. Coordena desde 2015 seu projeto próprio, a Oficina-laboratório de criação e desenvolvimento de textos.