Descrição
“– Como você chama? – a expressão de Lino permanecia plácida.
– Pedro.
– Pedro, Pedro… – deu um trago no cigarro de maconha. – Não é à toa que você negou Cristo três vezes. Sua pergunta vem bem a calhar. É uma boa pergunta. – repetiu. – É uma boa pergunta. Realmente se queremos caminhar não podemos negar o caminho. Como chegar à cachoeira sem passar pela trilha ou pelo rio? Andar a esmo é também andar e, por isso, o próprio acaso é um caminho. O que estou propondo é não utilizarmos mapas ou estudarmos técnicas de sobrevivência. O teatro é a arte do presente, a arte da trilha e do rio, do atirar-se à água. Se precisarmos partir, peguemos, então, se houver, uma trilha que não sabemos aonde vai dar; ou nos atiremos no rio escuro ou cristalino. Se nos perdermos ou formos levados infinitamente pela correnteza, isso é a vida, o teatro, o percurso que só pode ser definido depois de cumprido. Se nos afogarmos ou morrermos de fome cercados por serpentes e uma floresta indecifrável, tanto melhor… o que é a vida ou o teatro sem a morte?”
–
O beijo: símbolo, ação ritualística, demonstração de afeto, fato corriqueiro ou fantástico (dependendo de ocasião, participante e/ou observador). Assim são de certa maneira os acontecimentos deste livro que, seguindo forte tradição nacional, poderia ser chamado de memórias, já que reúne as experiências pessoalmente significativas do narrador-personagem desde a fase de alfabetização até a que alguns poderiam considerar de maturidade. Nesse percurso, surgem os primeiros amigos, os primeiros amores, os primeiros interesses e sobretudo um inconformismo. Inconformismo com o quê? Talvez o próprio narrador não saiba, talvez o leitor descubra. Mas o que importa mesmo para o narrador são as soluções, que ele procura no amor, na arte e na filosofi a. Se ele as encontrou em alguma medida é outra pergunta que fi ca em aberto. Talvez ele mesmo respondesse: “Algo me dizia que eu precisava tomar alguma iniciativa, no entanto não fiz nada além de transformar a realidade num romance que foi criando páginas e mais páginas na minha cabeça”.
DEL CANDEIAS – Mestre e doutor pela Faculdade de Letras da USP, Del Candeias também é escritor. Publicou o livro de contos “O livro das profissões”, o de poesia “Cantos do Ermo e da Cidade” (menção honrosa no prêmio Nascente–USP), o de contos “Dois de Novembro”, o de poesia “Uma dose de cortisol e uma porção de serotonina” e o romance “A Louca”. No gênero classificado como juvenil, lançou “A Flauta Mágica e o Livro da Sabedoria” (ganhador do segundo lugar da categoria “adaptação” do prêmio Jabuti e ganhador do prêmio FNLIJ) e “Fausto”. Em 2019 foi finalista do prêmio Barco a vapor com “Memórias póstumas de João Pedro”. Além desses trabalhos, o autor traduziu do alemão a peça “A boa alma de Setsuan”, de Brecht, para montagem realizada em 2005. Autor de “Augusto dos Anjos – um moderno entre os ‘ismos’” e AZINHAVRE e “Memórias póstumas de João Pedro”, com o qual finalista do prêmio Barco a Vapor, em 2019 (todos publicados pela Desconcertos Editora).
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