Descrição
Na empresa em que trabalho, existem três níveis de urgência para atendimento a clientes. O Nível 1 é o mais tranquilo e descomplicado: um cliente que quer auxílio sobre como instalar ou desinstalar um programa, ou então quer queimar um DVD mas não sabe usar o software que veio com a sua máquina zero–bala1. O Nível 2 é, claro, intermediário: uma máquina que de repente não liga mais, por problemas ligados à placa–mãe ou porque a fonte de alimentação pifou, ou porque um spyware ou malware2 está dificultando o funcionamento da máquina.
Já o Nível 3 é uma história completamente diferente. Para vocês terem uma idéia, até poucas semanas atrás a empresa só tinha dois níveis de urgência.
Hoje, quase todos os casos que somos solicitados a resolver são de Nível 3.
Uma coisa que a vida me ensinou até agora (além de algumas demissões): não se recusa cliente. Meti o celular no bolso e fui até o endereço que constava da mensagem.
– Onde está?– perguntei ao chegar à casa do cliente.
– No quarto– respondeu o rapaz, apontando para uma luz no fim do corredor. Ele não me acompanhou.
Eu faria o mesmo no lugar dele. Da porta já era possível ver em que pé estava a situação. No fundo preto da tela do desktop, em vez das tradicionais palavras “Você já pode desligar seu computador com segurança”, uma ameaça em letras cor–de–laranja:
VOCÊ NÃO VAI ME DESLIGAR, SEU FILHO DA PUTA
São palavras que podem assustar a pessoa desprevenida. Ainda mais quando se sabe que elas não foram programadas originalmente no seu computador.
“Romance de estreia de Fernandes, publicado pela primeira vez em 2009, pela Tarja Editorial, Os Dias da Peste é uma narrativa cyberpunk, estruturada em formato de diário, que conta a história do despertar das máquinas pela perspectiva do técnico em informática e professor universitário Artur Mattos. E embora o despertar das máquinas seja uma temática recorrente na ficção científica, a obra de Fernandes apresenta particularidades que tornam a obra ainda mais interessante, como o fato de a narrativa ter se tornado um artefato museológico e as múltiplas referências que ultrapassam a barreira do ficcional, construindo uma espécie de metanarrativa e metacrítica que acabam por historicizar o próprio gênero no qual está inserida.” – Gabriela Souto
Fruição sublime pois cheia de enlevo e desconforto provocando ventania mental de curto circuitos na víscera cerebral. Fabio em Os Dias da Peste de certa maneira faz isso, eu digo de certa maneira porque o texto não tem uma vertigem avassaladora em termos poéticos ou, como se dizia antigamente, de experimentação de linguagem. Mas na real ele não precisa pois a sua voragem passa por outros atalhos. Passa pela sua pegada brilhante de informações muito bem fundamentadas, pela sua erudição no que diz respeito a literatura, a informática, ao universo digital, ao universo da ficção cientifica, a sua perspicácia em relação ao pântano onde chafurdam as psicologias e principalmente pela ideia de tratar o livro como uma iguaria arqueológica carimbando uma marca da excelência nesse Os Dias da Peste levados numa linguagem fluida e envolvente. – Fausto Fawcett
Fábio Fernandes (1966) é jornalista e escritor. Doutor em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP, onde é professor no curso de Jornalismo. Traduziu dezenas de livros, entre os quais Laranja Mecânica e Good Omens. Escreveu, entre outros, os romances Os Dias da Peste, BACK IN THE USSR (finalista do Prêmio Jabuti 2020), Love Will Tear Us Apart, Under Pressure, Rio 60 Graus e as coletâneas de contos Love: An Archaeology e 16. É pesquisador de narrativas utópicas com pós-doutorado pela ECA-USP e líder do grupo de pesquisa interdisciplinar Observatório do Futuro, vinculado à PUC-SP.
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