Descrição
Rafaella fazia cuscuz de tapioca no fogão à lenha. O aroma do café inundava a cozinha, e àquela altura ele já se adaptara aos costumes do nordeste do Brasil, e só raramente naquela casa havia polenta ou macarronada. Comia com gosto sarapatel, bolo de mandioca, carne de sol com macaxeira. Era como se ali houvesse nascido. Até de dormir em rede gostava…
-Naquela manhã comecei a relembrar minha vinda da Itália para o Brasil. Minha mulher estranhou, porque durante todos aqueles anos de casados, eu nunca tinha falado sobre o passado. Mas agora era como se estivesse naquele dia de minha partida:
– Mãe, me abençoa!… pedi, antes de sair de casa. Ela enxugou as mãos no avental, sorriu encabulada e disse:
– Mas que sei eu, filho, sei apenas benzimento para mau-olhado, não sei de nenhuma prece de proteção para viagem.
– Não faz mal, mãe, reza essa mesmo, o que vale é a intenção…
E minha mãe pegou um prato no armário da cozinha, colocou água, pingou azeite, e molhando as mãos naquela água, fez o sinal da cruz, e pôs-se a me benzer:
Malochio te ai pilhato
Tré santi te ai salvato
Santana, Santa Luchia
Santa Maria Madalena
(Pai, Filho, Espírito Santo, amém)
———
O novo romance da veterana poeta, cronista, romancista Risomar Fasanaro repassa a vida de uma família de imigrantes italianos e, entre Osasco, de São Paulo, e Recife, de Pernambuco, também uma boa parte de nossa história, sofrida, angustiada e, ao mesmo tempo, repleta de esperanças e sonhos.
Risomar Fasanaro nasceu entre dois rios: Beberibe e Capibaribe na cidade do Recife, Pernambuco, no dia 1 de março, sob o signo de Peixes, com ascendente em Leão. Saiu de Pernambuco com onze anos para Osasco – São Paulo, acompanhando a família . É formada em Letras pela USP. Lecionou Língua e Literaturas brasileira e portuguesa na rede estadual de ensino do estado de São Paulo e na FITO – Fundação e Instituto Tecnológico de Osasco.
Escreve desde adolescente, mas só aos dezoito anos começa a mostrar seus textos. Participou do movimento estudantil contra a ditadura e depois pela Anistia e pelas Diretas. Recebeu vários prêmios em concursos de contos e poesia e em festivais de música. Neste último como letrista.
É autora do livrete de poesia “Casa Grande e Sem Sala” e tem alguns de seus contos e poesias em antologias e apostilas de cursinhos pré- vestibulares. Fez parte dos poetas independentes da geração 70. Expôs ‘Cozinha Poética’ no Centro Cultural São Paulo: poemas impressos em panelas, vidros e panos de pratos. Trabalhou como redatora e colaboradora em alguns jornais de Osasco, entre eles o “Primeira Hora”. Publicou artigos nas revistas “Realidade” e “Planeta”. Foi uma dos fundadoras do Grupo cultural “Veredas”, que editava a revista literária “Veredas” e da Vila dos Artistas de Osasco, com Carlos Marx, Irene Garcia e José Pessoa.
Recebeu o prêmio “Teresa Martin” com o romance ficcional “Eu: primeira pessoa, singular” que lhe valeu uma viagem à Europa e a publicação do livro. Tem três livros publicados “Eu: primeira pessoa, singular” (romance) “O Reencontro” (contos) e “Recinfância”(poemas). Tem também um livrete de poemas publicado em 1986 pelas edições Pingente.
Avaliações
Não há avaliações ainda.