Descrição
as vozes dos vivos e dos mortos coincidem nos risos
as várias facetas tinindo tilintando retinindo
o inferno é uma parede de subwoofers histéricos
de demandas do lar de demandas dos bancos e
dos hospitais
o inferno é a demanda dos vivos sobre outros vivos
que querem estar mortos
o inferno é uma casca de árvore encravada sob a unha
este inferno, mais audível que um discurso ditador
mais debacle que os projetos fracassados
mais fracasso que a forca da metrópole
mais frio, tacanho e cru, que a noite do domingo
que a manhã da segunda
–
Com um quê de intencionalmente caricatural, o clima predominante em muitos versos tem certa aura maldita, ora com inflexão mais passadista e gótica, ora com ressaibo beat, com “balneários de canalhas” e “bares de beira de estrada”. Para a criação dessa aura, contribui ainda a obsessão do suicídio, tema de uma das seções do livro, que no entanto pode não passar de um leve fetiche, “como teorias filosóficas, sem possibilidades reais”. Vai-se então do clonazepan e das tentativas de enforcamento no chuveiro à paráfrase de Merleau-Ponty (“a ciência manipula as coisas e renuncia a habitá-las”), do corpo “automatável” ao corpo reflexivo, visível e vidente. – Fabio Weintraub
DONNY CORREIA é mestre e doutor em Estética e História da Arte pela USP, ensaísta e cineasta ocasional. É membro da Abraccine e da ABCA. TOURO MEDUSA é seu quinto livro de poemas.
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