Descrição
toda vez
que uma
lágrima
cai
ou meu gozo
explode
escrevo
um verso
as palavras
saem de mim
molhadas
como uma
enxurrada
que não consegui
conter
Para desgovernar um coração selvagem.
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De um coração molhado, escorre um rio quente feito diamante derretido – das cores do planeta Vênus. Rio-desejo que percorre fomes, não para saciá-las, mas para desatar delas gemidos, frequências sonoras vivas de tudo que faz brotar: palavra. Mas rio que também seca, míngua, entre lunações que pulsam o tempo das saudades, ausências e medos. Sem, entretanto, jamais deixar de correr, jamais resignar-se, jamais desistir de entregar-se aos temporais de carnes famintas por voz e gozo. Vênus em Touro, de Ornella Rodrigues, é uma obra que tempera cada pedaço do que em nós é tesão, para devorar sem medo. Poesia que nos engole com lábios doces, sem mastigar, para sorver dos sexos tudo que é delírio e embriaguez. Pulsa um convite para a entrega, para a coragem dos mergulhos, para o encontro da água com as pedras. Labirinto feito pra se perder – dentro de onde vive seu Touro selvagem e ingovernável. – Raíssa Éris Grimm Cabra
Ornella Rodrigues tem 41 anos, natural de Santos\SP. Mulher de axé, feita no candomblé em Oxum e Oxalá, é escritora, poeta, fotógrafa e arte-educadora. Seu processo artístico dialoga entre versos e imagens, resgatando memórias afetivas do corpo e da alma. Em seus últimos trabalhos “Cartogra a afetiva, ancestralidade viva” e “Lua em exílio: amor em tempos de pandemia” (elaborados com fotos, vídeos e poesias), a artista revela sua busca por identidade, ancestralidade e, sobretudo, amor e afetividade. Possui um livro publicado intitulado “Como domar um coração selvagem”, lançado em 2018 pela editora Fractal, alguns trabalhos acadêmicos vinculados a movimentos sociais. Administra a página “Manual sobre amor e guerrilha”, que visa publicizar escritas de mulheres e participou de três antologias poéticas de mulheres negras em São Paulo/SP.
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