Descrição
Este trabalho investiga a encenação censurada de Calabar. A peça foi escrita por Chico Buarque de Hollanda e Ruy Guerra em 1973, dirigida por Fernando Peixoto no mesmo ano, e censurada às vésperas da estreia pela Ditadura Civil- Militar. A pesquisa reuniu documentos ligados ao trabalho teatral realizado, incluindo depoimentos inéditos do período, gravados em fita cassete por Fernando Peixoto e pelo diretor assistente Mário Masetti, alem de entrevistas com artistas que participaram do processo de ensaios. A partir desses materiais, foi produzida uma análise da montagem interrompida, organizada em três capítulos.
O primeiro trata do processo de produção da peça. Muitas das reflexões de Peixoto sobre Calabar estão ligadas aos limites e possibilidades estabelecidos por sua forma de produção. O segundo capítulo descreve e analisa o trabalho da equipe de direção sobre a dramaturgia. Peixoto e Masetti realizaram diversas reflexões sobre as potências do texto, e os pontos em que a montagem entrava em atrito com as proposições dramatúrgicas. No terceiro capítulo, são analisados aspectos da encenação censurada.
Peixoto articulou um enunciado da encenação a partir da presença de um coro que representava o povo. Nele se projetava um vislumbre de luta popular, sem a presença de um herói. A participação do coro nessa montagem dialoga com certa tradição de teatro musical politizado da década de 1960, mas sua especificidade está ligada à conjuntura do Brasil da década de 1970.
“Ao estudar a encenação censurada de Calabar, essa pesquisa procurou investigar as relações entre forma cênica, condições produtivas e contexto histórico. É uma reflexão sobre um trabalho coletivo interrompido, de um grupo de artistas, de uma geração. Se há pouco registros ou estudos sobre a cena em nossa oscilante história do teatro, quase sempre textual, o que dizer de um espetáculo que não estreou? Este objeto improvável – a cena não realizada – é uma escolha que vem carregada de enunciações simbólicas, e que ao certo será lido de modo comovente neste ano de 2020, quando muito do pior daquele período do governo militar volta ao protagonismo na política brasileira.” – Sérgio de Carvalho
Nina Hotimsky é professora, atriz, sonoplasta e sanfoneira. É doutoranda no departamento de Artes Cênicas da ECA/USP, mesma instituição onde realizou seu mestradoe graduação. Docente do curso técnico de teatro da ETEC de Artes. Pesquisadora de História do Teatro Brasileiro, é integrante do LITS – Laboratório de Investigação em Teatro e Sociedade da USP, coordenada pelo prof. Dr. Sérgio de Carvalho.
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